Você está no ônibus fazendo seu trajeto diário para ir ao trabalho enquanto observa os stories na sua rede social e vê o que parece ser um anúncio do próximo show da sua banda favorita, o clique é imediato. Enquanto isso, uma senhora parece passar mal ao entrar no ônibus tossindo. Você não deixaria ela ficar em pé daquele jeito, não é? Por isso segurou sua mão enquanto pediu para ela sentar no seu lugar. Naquele momento ela lhe entrega um panfleto da confeitaria em que trabalha e você se despede para descer no ponto diário, onde avista um novo cartaz com um sanduíche delicioso que cairia bem pedir por delivery no almoço.  

Não sei se você reparou o que acontece com a publicidade no ambiente das obras ficcionais do cinema quando uma pandemia nos atinge, mas com isso já sabemos que raramente estamos preparados para crises como essa no mundo real. O que podemos notar sempre é que nesses filmes a humanidade está vivendo sua rotina, assim como eu e você fazíamos antes desse isolamento social, e surge uma doença que transforma o que parecia ser um dia comum em uma ameaça constante aos nossos hábitos sociais. 

Diversos fatores podem influenciar o que acontece depois que o primeiro contágio aparece no filme, mas partindo de um viés econômico é possível ver o impacto de um vírus transmitido por contato físico que pode matar milhares de pessoas e que nos mostra seu poder de deixar países financeiramente instáveis. 

No Brasil, o primeiro registro do coronavírus foi confirmado no dia 26 de fevereiro pelo Ministério da Saúde e hoje, dois meses depois, enquanto faço esse texto, já se somam mais de 100 mil casos confirmados no país. A economia brasileira também tem sido afetada como ocorreu em outros países com a necessidade de fechamento do comércio e fronteiras. O fechamento ou a restrição do comércio nos traz a dúvida sobre como as pessoas irão permanecer consumindo produtos comuns que sempre exigiram contato em lojas físicas. 

Eu não te falei, mas no início do texto você foi infectado. Não sabemos por qual vírus, mas ele tem muita relação com o fato de você ainda estar aqui, seja por seu alto nível de contágio ou pelo receio que causa a sua letalidade neste momento. A verdade é que o coronavírus tem mudado nossa forma de visualizar o mundo, e a publicidade precisará mudar com ele para que possamos seguir em frente. 

Diante da atual situação, as empresas que conseguem recorrem às agências, que por sua conta têm buscado incansavelmente alternativas viáveis que possam servir como estratégia para que nossos hábitos comuns de consumo continuem a existir e a roda econômica gire. Mas e as empresas que não possuem um segmento relacionado às necessidades essenciais de consumo? Como elas podem continuar? Resta essa dúvida e o peso que se propaga com ela. 

Apesar de ser uma ferramenta utilizada pelo capitalismo, a publicidade é responsável por milhares de trabalhadores, e não somente aqueles que estavam no ar-condicionado das agências, mas também os que pertenciam e ainda pertencem às lojas e fábricas que já estão sendo afetadas. Tudo é uma cadeia para que a roda funcione e, caso essas empresas não encontrem alternativas para vender seus produtos, não conseguirão manter seus funcionários. 

O impacto vai além dos produtores de eventos, ele chega até o garçom que recebe por serviço e na frente do estádio onde o vendedor de pipoca trabalhava antes dos jogos serem cancelados. O atendente da loja não tem como manter a si mesmo e sua família sem salário ou comissão, e a tia que faz bolo não pode vender quando não há festas de aniversários ou casamentos que possam ser realizadas.  

E é observando isso que os criativos se levantam diariamente como cabeças pensantes para resolver crises e solucionar problemas, o que nos leva numa caminhada necessária rumo à aceleração da transformação digital. Se você não acha importante trabalhar com a internet até os dias de hoje, as plataformas digitais e as pessoas dedicadas a estudá-las, construí-las e usá-las como ferramenta de resolução para o seu negócio podem te fazer mudar esse pensamento. 

A verdade é que nos filmes sobre pandemia poucos estão de olho no que acontece com a publicidade, mas ela sobrevive enquanto restarem pessoas. Ela sobrevive de ideias criativas, de habilidades comunicacionais entre nós mesmos e com o público e de inovações que possam solucionar esse problema ou assegurar uma alternativa viável para as operações. Para nós, estamos descobrindo diariamente como ser mais rápidos que os tipos de impactos que irão nos atingir, pois eles irão. A diferença é estarmos ou não preparados para lidar com isso.

*Artigo escrito pela nossa Assistente de Planejamento, Marcella Ladislau.